terça-feira, 14 de junho de 2011

Pirateiem meus livros

A "pirataria" é o seu primeiro contato com o trabalho do artista: se essa idéia for boa, você gostará de tê-la; uma idéia consistente dispença proteção

Autor: Paulo Coelho - Escritor e Compositor, membro da Academia Brasileira de Letras
Veiculo: Jornal Folha de São Paulo, edição 29 de Maio de 2011, página A3
Fonte: Sebastião Telles, Florianopolis


Em meados do século 20, começaram a circular na antiga União Soviética vários livros mimeografados questionando o sistema político.
Seus autores jamais ganharam um centavo de direitos autorais.

Pelo contrário: foram perseguidos, desmoralizados na imprensa oficial, exilados para os famosos gulags na Sibéria. Mesmo assim, continuaram escrevendo.
Por quê? Porque precisavam dividir o que sentiam. Dos Evangelhos aos manifestos políticos, a literatura permitiu que idéias pudessem viajar e, eventualmente, transformar o mundo.
Nada contra ganhar dinheiro com livros: eu vivo disso. Mas o que ocorre no presente? A indústria se mobiliza para aprovar leis contra a "pirataria intelectual". Dependendo do país, o "pirata" - ou seja, aquele que está propagando arte na

Escritor Paulo Coelho
 Rede - poderá terminar na cadeia.
E eu com isso? Como autor, deveria estar defendendo a "propriedade intelectual". Mas não estou. Piratas do mundo, uni-vos e pirateiem tudo que escrevi!
A época jurássica, em que uma idéia tinha dono, desapareceu para sempre. Primeiro, porque tudo que o mundo faz é reciclar os mesmos quatro temas: uma história de amor a dois, um triângulo amoroso, a luta pelo poder e a narração de uma viagem. Segundo, porque quem escreve deseja ser lido - em um jornal, em um blog, em um panfleto, em um muro.
Quanto mais escutamos uma canção no rádio, mais temos vontade de comprar o CD. Isso funciona também para a literatura: quanto mais gente "piratear" um livro, melhor.
Se gostou do começo, irá comprá-lo no dia seguinte - já que não há nada mais cansativo que ler longos textos em tela de computador.
1 - Algumas pessoas dirão: você é rico o bastante para permitir que seus textos sejam divulgados livremente.
Ê verdade: sou rico. Mas foi a vontade de ganhar dinheiro que
me levou a escrever?
Não. Minha família, meus professores, todos diziam que a profissão de escritor não tinha futuro. Comecei a escrever - e continuo escrevendo - porque me dá prazer e porque justifica minha existência. Se dinheiro fosse o motivo, já podia ter parado de escrever e de aturar as invariáveis críticas negativas.
2 - A indústria dirá: artistas não podem sobreviver se não forem pagos.
A vantagem da internet é a divulgação gratuita do seu trabalho.

Em 1999, quando fui publicado pela primeira vez na Rússia (tiragem de 3.000 exemplares), o país logo enfrentou uma crise de fornecimento de papel. Por acaso, descobri uma edição "pirata" de "O Alquimista" e postei na minha página.
Um ano depois, a crise já solucionada, eu vendia 10 mil cópias.

Chegamos a 2002 com 1 milhão de cópias; hoje, tenho mais de 12 milhões de livros naquele país. Quando cruzei a Rússia de trem, encontrei varias pessoas que diziam ter tido o primeiro contato com meu trabalho por meio daquela cópia "pirata" na minha página.

Hoje, mantenho o "Pirate Coelho” colocando endereços (URLs) de livros meus que estão em sites de compartilhamento de arquivos. E minhas vendagens só fazem crescer - cerca de 140 milhões de exemplares
no mundo.

Quando você come uma laranja, precisa voltar para comprar outra. Nesse caso, faz sentido cobrar no momento da venda do produto.

No caso da arte, você não está comprando papel, tinta, pincel, tela ou notas musicais, mas, sim, a idéia que nasce da combinação desses produtos.

A "pirataria" é o seu primeiro contato com o trabalho do artista.
Se a idéia for boa, você gostará de tê-la em sua casa; uma idéia consistente não precisa de proteção.

O resto é ganância ou ignorância.

http://www.livronautas.com.br/
Comente essa idéia!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

POETAS DA AMÉRICA DE CANTO CASTELHANO. Seleção, tradução e notas de THIAGO DE MELLO

Se estivéssemos na abertura de um espetáculo, com plateia, palco e cenário, o discurso seria mais ou menos assim: "A Global Editora orgulhosamente apresenta a obra que, segundo o próprio organizador e tradutor, o poeta Thiago de Mello, coroa todo o seu trabalho no campo da poesia. Falamos do livro Poetas da América de canto castelhano, uma antologia inédita, que permeou a men-te do poeta da floresta por vinte anos. O livro chega para preen-cher uma imensa lacuna em nosso acervo bibliográfico e vem para cumprir um importante papel na integração cultural da América Latina.".

Poetas da América de canto castelhano reúne cerca de 400 poemas de 120 poetas, representantes de 18 países mais Porto Rico, dentre os quais estão Pablo Neruda, Jorge Luis Borges, Cesar Vallejo, Rubén Darío, Gabriela Mistral, Nicolás Guillén, José Asun-ción Silva, Jaime Sabines, Ernesto Cardenal, Mario Benedetti e muitos outros.

"A publicação de uma obra deste porte, como é fácil imagi-nar, implica enormes dificuldades. Não apenas por sua amplitude, do ponto de vista da produção editorial propriamente dita, mas, sobretudo, pelas questões relacionadas com a cessão de direitos autorais em condições excepcionais, indispensável à concretização do projeto. As negociações finais com autores, herdeiros e agentes literários — na maior parte das quais Thiago de Mello se empenhou pessoalmente e com paixão — tomaram cerca de dois anos. Ao longo dessa longa jornada, houve baixas", diz o editor Quartim de Moraes, em sua nota introdutória.

Algumas dessas baixas se devem a surpreendentes dificul-dades de comunicação e a reivindicações impossíveis de serem atendidas; outras, talvez, à incompreensão do significado da obra. Para tristeza de Thiago de Mello, acabaram ficando de fora algu-mas dezenas de autores, cujos poemas já estavam selecionados e traduzidos.

Ao leitor, cabe degustar o livro página por página, poema por poema, nota por nota e, enfim, aplaudi-lo. Certamente, de pé. reúne cerca de 400 poemas de 120 poetas, representantes de 18 países mais Porto Rico, dentre os quais estão Pablo Neruda, Jorge Luis Borges, Cesar Vallejo, Rubén Darío, Gabriela Mistral, Nicolás Guillén, José Asun-ción Silva, Jaime Sabines, Ernesto Cardenal, Mario Benedetti e muitos outros.

"A publicação de uma obra deste porte, como é fácil imagi-nar, implica enormes dificuldades. Não apenas por sua amplitude, do ponto de vista da produção editorial propriamente dita, mas, sobretudo, pelas questões relacionadas com a cessão de direitos autorais em condições excepcionais, indispensável à concretização do projeto. As negociações finais com autores, herdeiros e agentes literários — na maior parte das quais Thiago de Mello se empenhou pessoalmente e com paixão — tomaram cerca de dois anos. Ao longo dessa longa jornada, houve baixas", diz o editor Quartim de Moraes, em sua nota introdutória.

Algumas dessas baixas se devem a surpreendentes dificul-dades de comunicação e a reivindicações impossíveis de serem atendidas; outras, talvez, à incompreensão do significado da obra. Para tristeza de Thiago de Mello, acabaram ficando de fora algu-mas dezenas de autores, cujos poemas já estavam selecionados e traduzidos.

Ao leitor, cabe degustar o livro página por página, poema por poema, nota por nota e, enfim, aplaudi-lo. Certamente, de pé.

Título: POETAS DA AMÉRICA DE CANTO CASTELHANO
Organização e tradução: THIAGO DE MELLO
Autores: 120 poetas da América Latina mais Porto Rico
Editor: A. P. QUARTIM DE MORAES
Páginas / preço: 496 / R$ 79,00
Formato / acabamento: 18 x 23 cm / capa flexível
Lançamento: Junho de 2011
Público-alvo: Amantes da boa poesia

terça-feira, 7 de junho de 2011

Livro Lendo Lolita em Teerã de Azar Nafisi

A história de sete ex-alunas que a professora-autora Azar Nafisi reunia em sua casa para fazerem a leitura de obras proibidas na Universidade de Teerã. As reuniões eram semanais e no início as alunas eram muito tímidas, demonstravam medo e angustia pelo que estavam fazendo, mas ao longo do tempo elas passam a falar de suas vidas pessoais, seus sonhos, suas tristezas.


Azar Nafisi nasceu no Irã em 1947. Doutora em literatura inglesa pela Universidade de Oklahoma. É escritora e jornalista do New York Times, The Washington Post e The Wal Street Jornal. Em 1979, com a derrubada da ditadura do Xá Reza Pahlevi e a instituição da Republica Islâmica do Irã retornou ao país e conseguiu a função de professora de literatura na Universidade de Teerã, de onde - mais tarde - foi expulsa por se recusar a usar o véu.
Lendo Lolita em Teerã é seu grande sucesso, traduzido para 32 idiomas e constante, durante 30 meses consecutivos, da lista “dos mais vendidos” do New York Times.


Trecho do Livro: Fiquei esgotada depois da aula. Saí rapidamente, como se tivesse um compromisso importante. Não tinha nada para fazer. Coloquei meu casaco, chapéu e luvas e saí. Não tinha nenhum lugar para onde ir. Nevara muito naquela tarde, e depois o sol iluminara os montes de neve branca, fresca e limpa. Quando eu era criança, antes de me mandarem para a Inglaterra, eu tinha uma amiga, uma amiga de infância que eu amara muito, bem mais velha que eu. De vez em quando, nós caminhávamos por um longo tempo pela neve. lamos até nossa confeitaria predileta, na qual havia deliciosos sonhos de creme. Comprávamos os sonhos e voltávamos para a neve, nós os devorávamos enquanto conversávamos bobagens e caminhávamos e caminhávamos.

Saí da universidade e fui caminhar pela rua das livrarias. Com chapéus de lã enfiados sobre as orelhas, os vendedores de rua haviam aumentado o volume dos seus aparelhos de som e balançavam o corpo para se manterem aquecidos. Caminhei pela rua até que as livrarias deram lugar a outras lojas e a um cinema que frequentávamos quando éramos crianças, mas que agora estava fechado. Tantos cinemas foram incendiados durante aqueles dias gloriosos da revolução! Continuei minha caminhada até chegar à praça Ferdowsi, assim nomeada em homenagem ao nosso maior poeta épico. Teria sido neste lugar que eu e minha amiga paramos para rir naquele dia, enquanto saboreávamos nossos sonhos de creme?

Com o tempo, a neve ficou suja pela poluição de Teerã; minha amiga foi para o exílio e eu voltei para casa. Até então, a ideia de pátria tinha sido amorfa e ilusória; ela se apresentava em relances torturanntes, com a familiaridade impessoal de velhas fotografias de família. Mas todos esses sentimentos pertenciam ao passado. A pátria se transformava constantemente bem diante dos meus olhos.

Senti que perdia alguma coisa naquele dia, que lamentava uma morte que ainda não tinha acontecido. Senti como se tudo fosse essmagado, como pequenas flores selvagens, para dar lugar a um jarrdim mais elaborado, onde tudo seria controlado e organizado. Nunca tivera essa sensação de perda quando estudava nos Estados Unidos. Naqueles anos, meu anseio estava certamente ligado àquele lar, àquela pátria que era minha, para a qual eu poderia voltar na hora que quisesse. Só depois que retomei foi que compreendi o verrdadeiro significado do exílio. Enquanto caminhava por aquelas amadas ruas, ternamente relembradas, senti que esmagava as memórias que jaziam no caminho.

Fiquei esgotada depois da aula. Saí rapidamente, como se tivesse um compromisso importante. Não tinha nada para fazer. Coloquei meu casaco, chapéu e luvas e saí. Não tinha nenhum lugar para onde ir. Nevara muito naquela tarde, e depois o sol iluminara os montes de neve branca, fresca e limpa. Quando eu era criança, antes de me mandarem para a Inglaterra, eu tinha uma amiga, uma amiga de infância que eu amara muito, bem mais velha que eu. De vez em quando, nós caminhávamos por um longo tempo pela neve. lamos até nossa confeitaria predileta, na qual havia deliciosos sonhos de creme. Comprávamos os sonhos e voltávamos para a neve, nós os devorávamos enquanto conversávamos bobagens e caminhávamos e caminhávamos.

Saí da universidade e fui caminhar pela rua das livrarias. Com chapéus de lã enfiados sobre as orelhas, os vendedores de rua haviam aumentado o volume dos seus aparelhos de som e balançavam o corpo para se manterem aquecidos. Caminhei pela rua até que as livrarias deram lugar a outras lojas e a um cinema que frequentávamos quando éramos crianças, mas que agora estava fechado. Tantos cinemas foram incendiados durante aqueles dias gloriosos da revolução! Continuei minha caminhada até chegar à praça Ferdowsi, assim nomeada em homenagem ao nosso maior poeta épico. Teria sido neste lugar que eu e minha amiga paramos para rir naquele dia, enquanto saboreávamos nossos sonhos de creme?

Com o tempo, a neve ficou suja pela poluição de Teerã; minha amiga foi para o exílio e eu voltei para casa. Até então, a ideia de pátria tinha sido amorfa e ilusória; ela se apresentava em relances torturanntes, com a familiaridade impessoal de velhas fotografias de família. Mas todos esses sentimentos pertenciam ao passado. A pátria se transformava constantemente bem diante dos meus olhos.

Senti que perdia alguma coisa naquele dia, que lamentava uma morte que ainda não tinha acontecido. Senti como se tudo fosse essmagado, como pequenas flores selvagens, para dar lugar a um jarrdim mais elaborado, onde tudo seria controlado e organizado. Nunca tivera essa sensação de perda quando estudava nos Estados Unidos. Naqueles anos, meu anseio estava certamente ligado àquele lar, àquela pátria que era minha, para a qual eu poderia voltar na hora que quisesse. Só depois que retomei foi que compreendi o verrdadeiro significado do exílio. Enquanto caminhava por aquelas amadas ruas, ternamente relembradas, senti que esmagava as memórias que jaziam no caminho.

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