No Brasil seus principais livros são:
1 - A Fascinação
2 - A Guerra do Sorvete
3 - A Praia de Brazzaville
4 - A Tarde Azul
5 - Armadilho
6 - As Aventuras de Um Coração Humano
7 - As Novas Confissões
8 - Fuga
9 - O Destino de Natalie X Outras Estórias
10 - Tempestades Comuns - Clique para Ler
Tempestades Comuns de William Boyd |
Tempestades Comuns narra a história de Adam Kindred, profissional do segmento da geografia física, que trata das variações do tempo e climas em quase todos os canto da terra. Num dia comum de sua rotineira vida - se vê enredado num crime - e para não ser responsabilizado nem processado, foge. Em conseqüência da fuga ele fica sem casa, carro, amigos, credibilidade, documentos, dinheiro, cartões de crédito e celular. Acaba se enredando no submundo do crime envolvendo-se com prostitutas, bandidos, traficantes e toda sorte de pessoas problemáticas.
Neste romance Wiiliam Boyd mostra seu talento numa história atual, com trama factível de acontecer a qualquer executivo das grandes empresas e que vivem nas grandes cidades. Embora alguns atos de Kindred possam parecer exagerados, a leitura chega a dar a impressão de um roteiro de filme, aliás, gênero que o autor também é craque. Apesar da velocidade do conto, o leitor se depara com passagens amorosas, de enorme desespero, de terrível perversidade, e também, de jogadas inteligentes e outras de muito bom humor, como é típico dos escritores ingleses. Kindred, o personagem central, se envolve com prostitutas, escroques, policiais decentes, traficantes, corruptos e assassinos. O final não é previsível. O título adotado em português retrata bem a narrativa.
Leia um pequeno trecho: ...Na manhã do dia seguinte, à primeira luz da madrugada, ele desceu até a pequena praia para encher a garrafa d'água. Havia um outro pneu enterrado pela metade na lama, numerosas garrafas de plástico quebradas, alguns pedaços de madeira e um enovelado de cordão de nylon azul. Adam pegou o cordão - pensando vagamente que aquele era o tipo de material descartado útil que um náufrago poderia usar - e calculou que tivesse pelo menos sete metros de comprimento. Que desperdício. Que barqueiro ou marinheiro irresponsável atirara aquilo por sobre a amurada? Pássaros marinhos poderiam ficar presos nele, hélices enroscadas. Ele olhou ao redor; a luz estava linda, cor de pêssego e cinza, e o ar meio frio. Os pássaros do rio já começavam a voar e a pairar: gaivotas, corvos, patos, cormorões. Adam viu uma garça passar, batendo as asas sem elegância, na direção do parque Battersea e suas árvores altas. Sabia que no rio também havia gansos canadenses, e de repente a expressão "cozinhar o ganso" lhe veio à cabeça. Ele olhou para a praia - a maré estava virando - talvez em meia hora já estivesse claro demais e ele corresse o risco de ser observado. Então subiu de volta pelas correntes até o triângulo.
Não levou muito tempo - raspando suas latas vazias, ele reuniu um punhado de feijões frios. Pegou o caixote de madeira e, num instante, desceu para a praia. A armadilha que construiu era muito rudimentar, mas ele tinha fé de que a coisa funcionaria: levantou uma das extremidades do caixote e calçou-a com um pedaço de madeira que viera com a correnteza, atando ali sua nova aquisição, o cordão azul de nylon. Arrumou sobre uma pedra lisa um pequeno cone de feijões cozidos frios e colocou esta pilha debaixo do caixote já levantado. Depois subiu de volta pelas correntes, com a ponta do cordão presa nos dentes, e sentou-se para esperar atrás de um arbusto. Não estava levando muita fé que um ganso fosse cair na armadilha, mas esperava um pato - um pequeno pato gordo viria a calhar - e ficaria feliz se apanhasse um reles pombo londrino. Ficou esperando, dizendo a si mesmo para ser paciente, reunir a calma do caçador à paciência inabalável, se conseguisse. Esperou e esperou. Cormorões seguiam rio abaixo com a maré vazante, e depois mergulhavam. Dois corvos voaram até a praia e ficaram bicando as pedrinhas da beira d'água, sem mostrar qualquer interesse pelos feijões. Então Adam ouviu um zunir seco de asas, como se fosse um anjo acima de sua cabeça, e uma grande gaivota branca e cinzenta passou perto, fez uma curva brusca, pairou no ar e pousou, imaculada e delicadamente, com um cuidado quase ostensivo. Os corvos ignoraram a ave, revirando as pedrinhas meticulosamente e bicando os pedaços de alga. A gaivota seguiu direto para os feijões cozidos, curvando-se para dentro da extremidade levantada do caixote ... Adam puxou o cordão, o suporte saltou fora e o caixote caiu.
- Mais fácil dizer do que fazer - comentou Adam em voz alta, enquanto contemplava o caixote, já mexendo para lá e para cá agitadamente na praia lodosa, enquanto a gaivota apavorada batia as asas e andava dentro da armadilha. Mais fácil planejar do que executar. Mas ele estava faminto; apanhara sua presa, tinha combustível, uma faca, e carne assada era aquilo pelo qual ansiava. Não havia segredo - ele meteu a mão rapidamente debaixo do caixote e agarrou a gaivota por uma perna. O duro bico amarelo da ave atingiu violentamente seu antebraço, tirando sangue, até que Adam nocauteou a gaivota com a madeira de apoio do caixote. Depois lavou o braço no rio - mais ferimentos, quem se importava? - e voltou para pegar a gaivota amolecida e morta, as largas asas brancas abertas. Ao fazê-lo, viu uma grande barcaça carregada aparecer debaixo da ponte Chelsea,seguindo rio acima. Havia um homem de pé na proa, olhando para ele. Adam colocou a gaivota atrás do corpo e acenou, despreocupadamente. O homem não acenou de volta.
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