sábado, 16 de abril de 2011

Autor e Escritor William Boyd

Ótimo autor. Ótimo escritor. William Boyd nasceu em Gana no ano de 1952, onde passou a infância. Depois foi viver na Escócia. Graduado em jornalismo pela Universidade de Nice, França, foi também professor. Convidado da Flip participou da mesa “Chá Pós Colonial”, juntamente com a Guianesa Pauline Melville. Ambos fizeram  sucesso. Ele mais do que ela. Wiiliam Boyd é um autor muito premiado.
No Brasil seus principais livros são:

1 - A Fascinação
2 - A Guerra do Sorvete
3 - A Praia de Brazzaville
4 - A Tarde Azul
5 - Armadilho
6 - As Aventuras de Um Coração Humano
7 - As Novas Confissões
8 - Fuga
9 - O Destino de Natalie X Outras Estórias
10 - Tempestades Comuns - Clique para Ler


Tempestades Comuns
de William Boyd
 William Boyd era um dos menos festejados (pela mídia) autores estrangeiros, convidados da Flip. Lá os autores mais festejados se apresentam na quinta feira. William parece que tinha menos prestigio que outros convidados porque a mesa em que ele se apresentaria estava marcada para as 15h30 de sexta feira. Um horário não nobre, logo após o almoço. Mas, surpreendentemente a sua apresentação foi aplaudida de pé. A fila para "apanhar" seu autógrafo foi tão grande que no horário da mesa seguinte, ainda havia muitos leitores na fila para cumprimentar William Boyd. Comprar “Tempestades Comuns” era simples conseqüência. Evidentemente o livro não foi autografado.

Tempestades Comuns narra a história de Adam Kindred, profissional do segmento da geografia física, que trata das variações do tempo e climas em quase todos os canto da terra. Num dia comum de sua rotineira vida - se vê enredado num crime - e para não ser responsabilizado nem processado, foge. Em conseqüência da fuga ele fica sem casa, carro, amigos, credibilidade, documentos, dinheiro, cartões de crédito e celular. Acaba se enredando no submundo do crime envolvendo-se com prostitutas, bandidos, traficantes e toda sorte de pessoas problemáticas.

Neste romance Wiiliam Boyd mostra seu talento numa história atual, com trama factível de acontecer a qualquer executivo das grandes empresas e que vivem nas grandes cidades. Embora alguns atos de Kindred possam parecer exagerados, a leitura chega a dar a impressão de um roteiro de filme, aliás, gênero que o autor também é craque. Apesar da velocidade do conto, o leitor se depara com passagens amorosas, de enorme desespero, de terrível perversidade, e também, de jogadas inteligentes e outras de muito bom humor, como é típico dos escritores ingleses. Kindred, o personagem central, se envolve com prostitutas, escroques, policiais decentes, traficantes, corruptos e assassinos. O final não é previsível. O título adotado em português retrata bem a narrativa.

Leia um pequeno trecho: ...Na manhã do dia seguinte, à primeira luz da madrugada, ele desceu até a pequena praia para encher a garrafa d'água. Havia um outro pneu enterrado pela metade na lama, numerosas garrafas de plástico quebradas, alguns pedaços de madeira e um enovelado de cordão de nylon azul. Adam pegou o cordão - pensando vagamente que aquele era o tipo de material descartado útil que um náufrago poderia usar - e calculou que tivesse pelo menos sete metros de comprimento. Que desperdício. Que barqueiro ou marinheiro irresponsável atirara aquilo por sobre a amurada? Pássaros marinhos poderiam ficar presos nele, hélices enroscadas. Ele olhou ao redor; a luz estava linda, cor de pêssego e cinza, e o ar meio frio. Os pássaros do rio já começavam a voar e a pairar: gaivotas, corvos, patos, cormorões. Adam viu uma garça passar, batendo as asas sem elegância, na direção do parque Battersea e suas árvores altas. Sabia que no rio também havia gansos canadenses, e de repente a expressão "cozinhar o ganso" lhe veio à cabeça. Ele olhou para a praia - a maré estava virando - talvez em meia hora já estivesse claro demais e ele corresse o risco de ser observado. Então subiu de volta pelas correntes até o triângulo.
Não levou muito tempo - raspando suas latas vazias, ele reuniu um punhado de feijões frios. Pegou o caixote de madeira e, num instante, desceu para a praia. A armadilha que construiu era muito rudimentar, mas ele tinha fé de que a coisa funcionaria: levantou uma das extremidades do caixote e calçou-a com um pedaço de madeira que viera com a correnteza, atando ali sua nova aquisição, o cordão azul de nylon. Arrumou sobre uma pedra lisa um pequeno cone de feijões cozidos frios e colocou esta pilha debaixo do caixote já levantado. Depois subiu de volta pelas correntes, com a ponta do cordão presa nos dentes, e sentou-se para esperar atrás de um arbusto. Não estava levando muita fé que um ganso fosse cair na armadilha, mas esperava um pato - um pequeno pato gordo viria a calhar - e ficaria feliz se apanhasse um reles pombo londrino. Ficou esperando, dizendo a si mesmo para ser paciente, reunir a calma do caçador à paciência inabalável, se conseguisse. Esperou e esperou. Cormorões seguiam rio abaixo com a maré vazante, e depois mergulhavam. Dois corvos voaram até a praia e ficaram bicando as pedrinhas da beira d'água, sem mostrar qualquer interesse pelos feijões. Então Adam ouviu um zunir seco de asas, como se fosse um anjo acima de sua cabeça, e uma grande gaivota branca e cinzenta passou perto, fez uma curva brusca, pairou no ar e pousou, imaculada e delicadamente, com um cuidado quase ostensivo. Os corvos ignoraram a ave, revirando as pedrinhas meticulosamente e bicando os pedaços de alga. A gaivota seguiu direto para os feijões cozidos, curvando-se para dentro da extremidade levantada do caixote ... Adam puxou o cordão, o suporte saltou fora e o caixote caiu.
- Mais fácil dizer do que fazer - comentou Adam em voz alta, enquanto contemplava o caixote, já mexendo para lá e para cá agitadamente na praia lodosa, enquanto a gaivota apavorada batia as asas e andava dentro da armadilha. Mais fácil planejar do que executar. Mas ele estava faminto; apanhara sua presa, tinha combustível, uma faca, e carne assada era aquilo pelo qual ansiava. Não havia segredo - ele meteu a mão rapidamente debaixo do caixote e agarrou a gaivota por uma perna. O duro bico amarelo da ave atingiu violentamente seu antebraço, tirando sangue, até que Adam nocauteou a gaivota com a madeira de apoio do caixote. Depois lavou o braço no rio - mais ferimentos, quem se importava? - e voltou para pegar a gaivota amolecida e morta, as largas asas brancas abertas. Ao fazê-lo, viu uma grande barcaça carregada aparecer debaixo da ponte Chelsea,seguindo rio acima. Havia um homem de pé na proa, olhando para ele. Adam colocou a gaivota atrás do corpo e acenou, despreocupadamente. O homem não acenou de volta.

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